Distrito 22@ - O celeiro da inovação de Barcelona
- thaisnahas
- 16 de jul. de 2018
- 4 min de leitura

Em agosto de 2017 tive a oportunidade de conhecer parte do Distrito de Inovação 22@ em Barcelona. Fui recepcionada pelo Arquiteto e Urbanista Jaime Font Furest, referência internacinal em transformação urbana, e também pela Paula Mèlich Bonet, da FIRA Barcelona, responsável pelo mercado brasileiro do evento Smart City Expo World Congress e líder do Congresso de Economia Circular.
O projeto 22@ Barcelona, que teve início no ano 2000, está transformando duzentos hectares de área industrial em Poblenou em um distrito inovador que oferece espaços para a concentração estratégica de atividades intensivas em conhecimento. Esta iniciativa é um grande projeto de renovação urbana - o mais importante da cidade de Barcelona nos últimos anos e um dos mais ambiciosos da Europa com estas características - e busca ser um novo modelo de cidade que atende aos desafios da sociedade do conhecimento.

Nossa conversa foi no prédio do Media-TIC, um ponto de encontro para empresas, centros de pesquisa, e profissionais da mídia e da tecnologia da informação. O prédio, que é um ícone arquitetônico - tem a forma de um cubo e é formado por grandes vigas de ferro cobertas por um revestimento plástico de bolhas infláveis que regula a luz e a temperatura, oferecendo uma economia de 20% - possibilita o encontro e diálogo entre a administração municipal e o setor privado, com o intuito de reativar a economia da cidade. Além de diversas empresas, no local está instalado o Escritório de Atenção à Empresas (OAE - Oficina de Atención a las Empresas). Esta é uma iniciativa da prefeitura de Barcelona que reúne, em um único espaço, um conjunto de serviços e recursos que atende às necessidades das empresas locais e internacionais. Assim, na OAE, é possível obter informações e orientações personalizadas, realizar trâmites empresariais e municipais e participar em alguns dos programas de formação empresarial e de networking. Com o objetivo de fortalecer a vocação de Barcelona como uma cidade inovadora, o distrito 22@, além de abrigar incubadoras, diversos centros de pesquisa, universidades e empresas, é também um super Laboratório Urbano. A região é um espaço de testes para empresas e centros de pesquisa com soluções inovadoras voltadas ao urbanismo, educação, mobilidade, sustentabilidade e que melhorem a qualidade de vida dos cidadãos. O objetivo é apoiar a realização de pilotos em ambiente real de projetos inovadores e que estão em fase de pré-comercialização para que, se provarem seu valor, possam ser comercializados em grande escala em Barcelona ou em outras cidades ao redor do mundo.
Logo ao lado do prédio do MediaTIC, foi implementado o projeto piloto das “superquadras”, que busca diminuir a circulação de veículos nas ruas e reúne 9 quadras da cidade em uma única superquadra (400 x 400 metros). Foram implementadas medidas como a criação de calçadas com 2,5 metros de largura, garantindo acesso para pessoas com deficiência. Além disso, o projeto eliminou 50 vagas de estacionamento das 700 disponíveis, reduziu o limite de velocidade para 10 km/h nas áreas próximas aos espaços de pedestres e desviou o fluxo de veículos para as bordas, liberando o centro para pedestres e ciclistas. No interior da superquadra, os únicos veículos permitidos são os de emergência, os dos moradores e os de carga. Segundo Jaime, no início houve muita desaprovação dos moradores, principalmente os mais antigos. Mas o projeto seguiu adiante e o que se vê são pessoas aproveitando mais este espaço, como na foto, onde crianças brincam no espaço que antes circulavam carros (vídeo do WRI Brasil).

O distrito 22@ Barcelona é inspiração para muitos projetos ao redor do mundo, inclusive aqui em Florianópolis, e nesta visita e conversa com o Jaime pude perceber que os desafios enfrentados por eles durante esta profunda transformação geram aprendizado contínuo, o qual é difundido mundo afora.
Um dos desafios é a necessidade de rever, ao longo do tempo, certas estratégias de urbanização para se alcançar um objetivo maior. Atrair pessoas e transformar a economia de uma região não é nada fácil. Diferentes gerações possuem diferentes hábitos e preferências, e a forma de atraí-las muda constantemente. Aliás, esse é também um grande desafio para os Parques Tecnológicos que temos por aqui - são planejados numa década e implantados em outra. O jeito de morar, se locomover, se divertir e trabalhar muda cada vez mais rápido. É preciso acompanhar essas tendências e adaptar os projetos, tornando-os mais flexíveis e atrativos para as pessoas e consequentemente para os investidores, caso contrário, os recursos investidos em infraestrutura serão em vão.
Se uma cidade quer ser inovadora, ela tem que abrir espaço para a inovação. Tem de testar e encontrar novas soluções para problemas que nunca foram resolvidos e se antecipar para aqueles que estão por vir. Deve encorajar e estimular as “mentes brilhantes”, mas também investir na educação de base. Ser transparente ao mostrar as reais dificuldades que a própria administração e a população enfrentam e dar condições para que as pessoas se sintam engajadas para contribuir na busca de soluções. Criar um ambiente econômico favorável para atrair negócios inovadores e pessoas qualificadas. Em Barcelona existe um grande esforço local para tornar a cidade uma referência mundial em inovação e vale acompanhar de perto as estratégias adotadas por lá e adaptá-las para a nossa realidade.
Thaís C. Strassmann Nahas
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